Como
seria de esperar, António Costa ganhou as primárias para a escolha do candidato
do PS a Primeiro-ministro. Ao fim de uma campanha que não deixou saudades pelo
deserto de ideias apresentado por cada candidato e depois de um autêntico lavar
de roupa suja, o processo levou imenso tempo, desgastando o crédito do PS e
dando algum alento a Passos Coelho e ao seu séquito de cortesãos. Penso que
todo este espectáculo foi desnecessário e que haveria outras formas
estatutárias para escolher o sucessor (ou continuador) de António José Seguro.
Costa tinha toda a legitimidade de desejar o poder e de o disputar com quer que
seja, até com o Secretário-geral em exercício, mas parece-me que a forma
adoptada para o conseguir não foi a mais recomendada. E por mais que embeleze o
seu discurso, fica sempre a ideia de que se aproveitou do trabalho realizado
por Seguro, capitalizando agora em seu favor a estabilidade que aquele
conseguiu, no seguimento do consulado de Sócrates. Com efeito, Seguro “aguentou
o barco” e conseguiu que o PS, ao vencer as diversas eleições do seu mandato,
não entrasse em colapso. E isto apesar da pesada herança recebida, traduzida em
anos de austeridade com a aplicação do programa da Troika e de que, por ter
sido apadrinhada pelo PS, Seguro não poderia abjurar, mesmo não concordando com
os seus termos. Passado o tempo de aplicação do programa, com o descalabro
anunciado e esperado do consulado de Passos Coelho, Costa, que sempre
ambicionou a cadeira do poder, não poderia ter escolhido melhor momento para
desafiar quem, de facto, não conseguia descolar significativamente dos liberais
PSDistas, mesmo mantendo-se à sua frente.
E
embora ganhando Costa por margem folgada, abriram-se feridas e divisões que
apenas o “rebuçado” do poder distribuído com “magnanimidade” por alguns dos
vencidos poderá colar os cacos partidários.
Pessoalmente,
não espero grandes voos de Costa. Ele representa mais do mesmo e a sua pessoa
está ligada aos mesmos do costume. É, o que poderemos dizer, o candidato do
mesmismo. Tem virtudes, sem dúvida, é combativo, aguerrido, tem um discurso
fácil (embora o tom de voz seja um pouco irritante) e fala uma linguagem que,
sendo populista, vem tão bem maquilhada que acabamos por não perceber que o é.
Na campanha, imitando Seguro, não apresentou uma única ideia nem referiu algum
programa que galvanizasse a nação, ficando-se por generalidade cativantes que
qualquer Zé da Esquina não teria dificuldade em formular. E na noite da
vitória, ao contrário de Seguro, nunca mencionou o adversário o que, para quem
critica ataques pessoais, não fica bem e é mau sinal. Para vingativo, já bem
bastam algumas intervenções do actual inquilino de Belém. Seguro pecou porque,
aparecendo com uma aura de alguém que traz um discurso novo (de facto, procurou
apresentar-se como alguém disposto a praticar um novo tipo de política), não
conseguiu capitalizar em seu favor algum descontentamento com a governação
coelhista e foi um pouco macio nos debates parlamentares. Nesse aspecto, Costa
dá de facto outras garantias. Mas chegará?
Embora
Costa seja representante do mesmismo, espero que, chegando a Primeiro-ministro,
consiga fazer melhor que o aplicador da austeridade, que conseguiu o milagre de
transformar uma crise financeira numa crise económica. E que, de arrasto, leve
o país a garantir a sobrevivência dos nossos descendentes, deixando-lhes se não
um país mais próspero e mais justo, pelo menos as raízes germinadas desse país
com que tanto sonhamos. Seria com todo o prazer que viria à praça dizer: enganei-me
a respeito de Costa. Daqui a 4-5 anos (ou talvez antes) saberemos se os que
votaram em Costa não lamentarão não o terem escrutinado mais. Alguém viu por aí
o D. Sebastião?
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